Será que a imposição é um bom caminho para se pensar a leitura como valor? Ler um livro por obrigação ou para aquisição de uma nota não possibilita ao aluno uma leitura prazerosa, de crescimento, mas, sim uma leitura imposta que fica só ali e o aluno não carrega nada para sua vida. Ler é, sim, um esforço, e, para valer à pena, é preciso que essa leitura tenha relação com nossos interesses, nossas questões e necessidades maiores. Dessa forma, experimentamos prazer ao ler, obras longas, difíceis, porque o que estamos lendo significa algo para nós.
É comum também que o livro de literatura seja imposto para a turma toda estudar determinado assunto de outra disciplina, menos literatura. Como ocorre em Língua Portuguesa, trechos literários são usados para ensinar ortografia, pontuação, classes gramaticais entre outras coisas mais e a literatura torna-se um instrumento de informação, pura e simples. Jogar a literatura para campo instrucional pode tirar dela o poder da fantasia e do jogo, que alimentam outra parte importante de nossa vida.
Ao propor uma leitura literária, é fundamental que o literário seja o prioritário, e que o informativo emerja da construção artística, e não o contrário. Até agora foi abordado o que parece inadequado no desenvolvimento da leitura literária: a imposição não funciona, a obra única fere o princípio de atendimento das preferências pessoais e de conhecimento prévio, a avaliação por meio de provas não prova. Devemos nos empenhar em mostrar a relevância de descartar práticas que costumam criar aversões.
Vamos pensar agora, em experiências que reconhecidamente dão certo, para a maioria das situações e que permitem muitas variações, mantendo os princípios mais importantes.
1- Como fazer a escolha de títulos?
A- Selecione livros bem diferentes, em gênero, em dificuldade, no tratamento da história (com humor, com poesia, por exemplo). Apresente a seus alunos obras daquelas várias tendências apresentadas na seção2.
B- Proponha que cada um escolha o título que mais lhe interessa e que leve para ler “em casa”.Será ótimo se os livros forem da biblioteca e eles puderem levá-los já para casa. Se tiverem de ser comprados, enquanto eles não chegam, mantenha sempre uma conversa sobre os livros, use textos deles.
2- Que fazer, enquanto os alunos estão lendo?
A- Inicialmente, tenha todos os dias alguns minutos para uma roda de leitura, em que cada um vai falar sobre seu livro. Você pode fazer grupos de discussão entre os que estão lendo a mesma obra. Acompanhe essas discussões dos grupos. Ajude no debate criando perguntas estimuladoras.
B- Conforme o andamento da leitura, deixe à disposição dos alunos o espaço de um painel, de um quadro, para eles escreverem, se quiserem, algo sobre o livro.
C- Conforme o envolvimento com o assunto da obra, eles podem interessar-se por desenvolver alguma outra experiência: passar a história para quadrinhos, dramatizar, fazer uma pesquisa ou entrevista sobre uma questão do livro, escrever ao autor, etc.
D- Os alunos têm prazer em apresentar para os outros os resultados de um trabalho. Discuta com eles formas, local e data de apresentar aos colegas o seu trabalho.
E- Depois das apresentações, avalie o trabalho com o grupo e com a turma toda.
3- Como avaliar a leitura dos alunos?
Se avaliação na escola é uma dificuldade, no trabalho com arte e, portanto, com a literatura, ela é um ponto crítico. Cada vez mais, os teóricos e pedagogos insistem num ponto fundamental: nossa avaliação não pode ser apenas somativa, mas também formativa, uma avaliação em processo. Na avaliação com leitura, menos do que “medir” o conhecimento dos alunos, ela deve ajudar-nos a ver com clareza se nossos objetivos estão sendo atingidos, se nossos métodos e estratégias estão aproximando os alunos da leitura. Ela dá pistas para o redimensionamento do nosso trabalho. Basta que queiramos enxergar não simplesmente as dificuldades dos alunos, mas as nossas também, na busca para superar os problemas deles.
Na realidade , todas as atividades de acompanhamento dos alunos foram uma avaliação não só da turma, mas da atuação do próprio professor e das condições da leitura. Dessa forma, o foco deixa de ser a atribuição de um a nota, ou de um conceito a cada estudante, e passa a ser também uma análise das condições de aprendizagem que o professor e escola oferecem aos alunos.
Essa avaliação deve ser explicitada sempre aos alunos. Comece fazendo a eles indagações que ajudem o próprio grupo a se auto-avaliar, a perceber pontos altos e baixos da atividade, ou de seu envolvimento com a leitura. Não é adequado você observar o trabalho e não dizer nada, ou só encontrar falhas, ou só elogiar (a menos que só mereçam elogios). Vá além do “Muito Bem” ou do “Precisa melhorar”. Explicitando suas opiniões, vai favorecer o crescimento do grupo.
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