quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Resumo: A literatura no Ensino Médio: quais os desafios do professor?(Texto de Ivanda Martins)

A grande maioria dos professores já devem ter se questionado de como trabalhar a literatura em sala de aula. E a resposta para essa pergunta não é tarefa fácil, a leitura de obras literárias nem sempre ocorre pelos estudantes. Já que hoje, a internet é um veículo que concorre com a leitura literária. A literatura sofre um processo de escolarização, pois o texto literário é utilizado nas escolas como pretexto para o ensino de noções gramaticais. No Ensino Médio, a sistematização de certos conceitos específicos da teoria e crítica literárias precisa alcançar maior profundidade. A carência de noções teóricas e a escassez de práticas de leituras literárias são fatores que contribuem para que o aluno encare a literatura como algo complexo demais.
A Leitura da Literatura está relacionada à compreensão do texto e o Ensino da Literatura é o estudo da obra literária, visando sua organização estética. Tanto a Leitura quanto o ensino da Literatura estão interligados e a escola parece dissociar esses dois níveis, desvinculando o prazer de ler o texto literário do reconhecimento das singularidades estéticas da obra. Eles devem estar presentes no contexto escolar, de modo articulado, pois são dois níveis dialogicamente relacionados.
O professor deve confrontar o aluno com a diversidade de leituras do texto literário, para que o mesmo reconheça que o sentido não está no texto, mas é construído pelos leitores na interação com textos. Partindo dessa interação do aluno com textos que o estudo da literatura torna-se significativo. A literatura não pode ser compreendida como objeto isolado, sem as interferências do leitor, sem o conhecimento das condições de produção/recepção em que o texto foi produzido, sem as contribuições das diversas disciplinas que perpassam o ato da leitura literária, inter/ multi/ transdisciplinar que envolve e correlaciona outras áreas do conhecimento( história, filosofia, geografia, etc.) ainda precisa ser mais difundida no espaço escolar. Abordar a literatura, visando as noções de intertextualidade, interdisciplinaridade, transversalidade e intersemiose é, sem dúvida, uma premissa fundamental para que o aluno desenvolva uma compreensão mais crítica do fenômeno literário, sendo este inserido nas práticas sociais e culturais.
Atualmente a escolarização da leitura literária é um tema muito debatido, por diversos autores. Ela é classificada em escolarização adequada, que conduz eficazmente às práticas de leitura presentes no contexto social e em escolarização inadequada, que resiste a aversão dos alunos aos livros e distancia-se das práticas sociais de leitura. Numa escolarização inadequada, observa-se a ausência de uma proposta de ensino interdisciplinar, fator que contribui para o estudo do texto literário como elemento isolado das demais disciplinas, pois o aluno percebe a integração entre a literatura e as demais áreas do conhecimento.
A literatura é também utilizada como fenômeno decorativo e belo, valorizando-se mais as obras clássicas, esquecendo da riqueza presente nas obras contemporâneas. Com isso, é imprescindível que o professor reavalie suas leituras e leve a produção de autores comtemporâneos para a sala de aula, fazendo uma abordagem diacrônica( resgatando obras do passado) e sincrônica( analisando obras do presente) considerando suas manifestações culturais, a produção e a recepção do objeto literário. Ensinar literatura não é apenas elencar uma série de textos ou autores e classificá-los num determindado período literário, mas sim revelar ao aluno o caráter atemporal, bem como a função simbólica e social da obra literária.Segundo Rösing(1988: 14)" O que vem acontecendo no Brasil é uma prática de ensino da literatura predominantemente empírica, em que é desconsiderada, ou por omissão ou por desconhecimento, a natureza da leitura, da literatura e suas implicações". Nesse sentido, há uma necessidade evidente de reavaliação das metodologias direcionadas ao esino da literatura, visando à busca de alternativas didáticas de ensino-aprendizagem capazes de motivar os alunos à leitura por prazer.
A relação entre literatura e escola apresenta-se, normalmente, marcada por concepções estigmatizadas sobre o fenômeno literário.Sentimos a necessidade de refletir sobre essas noções estereotipadas, verdadeiros mitos que orientam o trabalho com a literatura em sala de aula. O primeiro mito: Literatura é muito difícil, culpa a escola por incentivar apenas a leitura de obras clássicas, pertencentes a contextos espácio-temporais distantes da realidade do aluno. Também cita a questão da superabundância de textos fragmentados presentes no livros didáticos, tornando o ato de ler superficial, onde o aluno não consegue ler as entrelinhas ou para além das linhas e encara o texto literário como algo complexo, difícil de ser compreendido. O segundo mito: É preciso ler obras literárias para escrever bem, reflete que a leitura e a escrita mantêm relação diálogica, na medida em que autores-textos-leitores interagem no processo de produção e recepção dos textos que circulam dentro e fora da escola. Isso implica dizer que o papel do autor pressupõe a atividade cooperativa do leitor, sem a qual a reconstrução da significação textual não ocorreria como processo de co-enunciação. Portanto, não se deveria trabalhar a leitura literária apenas com a finalidade de realizar produções textuais, resumos, preenchimento de fichas de leituras e sim realizar atividades voltadas para a leitura, incentivando o aluno a ler sem, necessariamente, ser avaliado, deixando-os livres na escoha de seus próprios textos. Talvez, dessa forma o aluno sinta-se mais motivado à leitura literária. O terceiro mito diz: A linguagem literária é marcada pela especificidade, essa visão da linguagem literária está ainda presente no contexto da sala de aula, em que a obra literária é analisada com base em enfoques formalistas e estruturalistas. As relações entre texto-leitor, texto-contexto muitas vezes não são consideradas como deveriam.
Desse modo, a relação entre linguagem literária e não-literária precisa ser abordada na escola a partir dos pontos de confluência entre a literatura e os discursos que produzimos cotidianamente. Segundo Lajolo (2001:18) o que diferencia o literário do não-literário não está imanente ao texto, mas participa de um processo mais amplo que envolve as condições de produção, recepção e a mediação entre autor-texto-leitor.
As novas tecnologias vêm requerer uma postura diferente em face da literatura. O ensino da literatura, como qualquer outra forma de ensino-aprendizagem, precisa estar atrelado ao contexto dinâmico das novas ferramentas tecnológicas. Com o surgimento da internet, tanto a leitura literária como outras práticas de leitura e de escrita estão assumindo novas funções, ou seja, estamos, aos poucos, ajustando nossas estratégias comunicativas e interativas. Aos textos impressos, somam-se os textos eletrônicos, formados pelas relações intra e intertextuais que exigem um leitor familiarizado com a articulação de diferentes linguagens. O leitor passa a ser um navegador e parece perdido diante do acúmulo de inúmeras informações e da rapidez com que o conhecimento se propaga pela internet. Esse leitor-navegador desenvolve uma leitura superficial pela rapidez de informações disponíveis pelos recursos da era digital e a escola ainda precisa desenvolver estratégias diversificadas, visando à formação desse leitor-navegador que ultrapasse essa superficialidade de leitura. Ao longo do texto, foram citadas várias sugestões metodológicas sobre a literatura em sala de aula como:desmistificar a concepção escolarizada da literatura como fenômeno decorativo, belo; incentivar o trabalho com textos clássicos e contemporâneos; reavaliar o seu trabalho a todo instante entre outros. Essas sugestões servem para refletirmos sobre estratégias capazes de contribuir para o nosso trabalho, enquanto professores de literatura, sempre dispostos a refletir, analisar e reavaliar nossa prática pedagógica direcionada ao texto literário.
Enquanto isso não ocorrer, as aulas de literatura continuarão desinteressantes, devido aos exercícios fragmentados e repetitivos de boa parte dos livros didáticos, à postura tradicional diante o texto literário, à avaliação da leitura literária como forma de punição e não de prazer. Enfim, nós professores devemos reavaliar as concepções de literatura que norteiam nossa prática pedagógica, desconstruindo os mitos que ainda circulam na escola e limitam as relações entre leitor e texto literário em sala de aula

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